sexta-feira, 1 de julho de 2011

Relatório sobre o Texto: A Sociedade contra o Estado


O texto, um artigo importante lançado em 1974 de autoria de Pierre Claster, fundador da antropologia política, tem por objeto de análise as sociedades primitivas, com o objetivo de esclarecer o real motivo da ausência de um poder instituído por estas sociedades, o Estado.
            Aprofundando as observações em relação a estas primeiras sociedades da História humana, o autor aponta diversas evidências das diferentes concepções de mundo, de realidades. Ao aproximar um olhar crítico sobre os vestígios deixados pelos homens antigos, encontra-se não a ausência de Estado como uma necessidade não suprida e sim, a existência de uma diferente percepção de necessidades no grupo. Essa diferença pode a princípio ser rotulada de atraso tecnológico, de subdesenvolvimento, mas no tocante a sua eficácia, os estudos revelam uma dinâmica eficiente que regulou a existência e a permanência dessas sociedades ao longo do tempo.
            As primeiras sociedades são comparadas a outras que resistem até nossos dias, os indígenas. O texto expõe uma diversidade de culturas e costumes que tem como fundo o mesmo universo de sobrevivência atribuído ao povo primitivo. A busca por alimentos, abrigo e defesa contra um meio hostil, leva tais sociedades desenvolverem aquilo que julgam ser o estritamente necessário para suprir determinada situação, quando essa ocorre. Aprendem dessa forma, através da observação, a melhor maneira de conduzirem suas vidas, dedicando apenas o tempo necessário ao trabalho, que nos parece pouco, tendo todos sua parte a realizar em favor de todos, ninguém trabalha especificamente para um individuo. Tudo sempre em favor do coletivo.
            Um chefe pode guiar uma multidão de guerreiros numa guerra com a qual todos concordam, mas jamais numa peleja pessoal. As sociedades primitivas mantêm o poder dividido entre todos, tornando-se fortes quando preciso, unindo-se tanto para celebrar, quanto para guerrear. O homem primitivo utiliza o tempo de forma a acompanhar os ciclos naturais. Ao termino do preparo do solo e da semeadura, ou mesmo ao retornarem da caça, o trabalho passa para as mãos das mulheres, que vão preparar e dividir o alimento entre todos. O restante do tempo dedica ao ócio, pesca festas e guerra.
            Vemos uma sociedade igualitária. Ao chefe eram delegadas obrigações, sendo esse muito mais um servo do que um líder propriamente dito, pressupondo-se este possuir alguma habilidade técnica, sabedoria e oratória eficientes em momentos de conflitos internos e externos, dono de uma autoridade natural, apenas baseada na tradição, não imposta pela força nem pelo medo. Partindo da concepção moderna de tecnologia e de progresso, parece-nos serem essas sociedades estagnadas e alienadas devido à busca permanente de alimentos. Porém o que estudos demonstram é que havia um equilíbrio entre necessidade e produção, havendo excedentes para trocas e para as festividades, não existindo acumulação primitiva, propriedade ou qualquer outro fator de desigualdade, motivo pelo qual também não há necessidade de um poder instituído para fazer valer regras.
            A idéia de Estado sugere diversas contradições dentro deste tema. Não havia necessidade de centralização de poder, pois tudo funciona de maneira autônoma e em sincronia. Apesar do pouco tempo dedicado ao trabalho, esses homens não morreram de fome. O texto relata que diversos cronistas ao descrever o povo “selvagem” eram unânimes quanto à bela aparência e boa saúde de numerosas crianças. O autor se inspira na figura de um chefe indígena, genericamente e para apontar as conseqüências da marcha da civilizatória ocidental chegando à América, abalando profundamente o imaginário dessa civilização, ao tentar impor e sobrepor sua cultura, legitimada pela “missão civilizatória”. Criam-se assim dependências que vão escravizar os nativos, submetendo-os a produzir o que não vão consumir para outros que não produzem.
            Portanto vemos a impossibilidade do surgimento do Estado no núcleo da sociedade primitiva e não um destino inevitável, pois o sistema desenvolvido pelas antigas aldeias não comportavam tal mecanismo. O que a nós pode parecer arcaico e ultrapassado neste sistema antigo, na verdade garantiu a subsistência necessária e deu conta das demandas que surgiam entre seus membros. A análise da sociedade primitiva a partir do conceito moderno de sociedade leva a incorrer ao mais profundo anacronismo, assim como “civilização” a partir de uma ótica eurocêntrica, perde seu sentido em relação a outras culturas.

Bibliografia
CLASTRES, Pierre. A sociedade contra o Estado: pesquisas de antropologia política. 5ª ed. Editora Francisco Alves, 1990.

Mirna Galesco DiasDisciplina: História da Antiguidade Oriental - Profº Fábio Augusto Morales

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