sexta-feira, 1 de julho de 2011

Análise: Formação da Rede Regional de Abastecimento: A presença dos negociantes de gado (1801 – 1811)



O recorte feito pelo autor e tratado no texto, tem como segmento de estudo a formação da rede de abastecimento do Rio de Janeiro e a presença dos negociantes de gado no final do século XVIII e inicio do XIX, especificamente na região de Sorocaba, eixo comercial importantíssimo, uma rota cheia de ramificações, mas tendo como destino São Paulo, Minas Gerais e Rio de Janeiro. O autor nos apresenta um amplo panorama das relações entre produtores, mercadores, comerciantes e consumidores e como estas relações se estabeleceram, em seu texto, dividido em três partes, que nos fala da cobrança de uma taxa sobre a circulação do gado, o volume de animais e as suas possíveis fontes de suprimento e sobre os comerciantes de gado.
O texto informa á respeito da imposição voluntária, uma taxa estabelecida para que se realizasse a manutenção da estrada. A Câmara de Lorena fica responsável pela execução e prestação de contas. É possível observarmos que esta taxa era paga de má vontade pelos boiadeiros, devido ao fato dos grandes produtores atravessarem seu gado sem a respectiva guia do tesouro, o que impossibilitava estabelecer a justa cobrança do imposto. Trás também dados sobre a possível origem e destino dos animais de corte (vacum), e os usados como transporte (cavalar e muar). Os derivados animais, como por exemplo, o charque e o couro, são transportados via marítima.
A necessidade de se abastecer regiões mineradoras e escoar o ouro em direção ao Rio de Janeiro dá início à abertura de estradas e caminhos. O caminho novo da Piedade, atual cidade de Lorena, foi aberto após um problema político, a Guerra dos Emboabas (1707), quando o território mineiro e paulista se separam, este último não querendo que o ouro vindo de Cuiabá e Goiás, regiões pertencentes a São Paulo, passasse por Minas e que também não poderiam seguir pelo litoral, devido à presença de saqueadores. A construção desse caminho se inicia em 1725, sendo que de Piedade á São Paulo já existia a Estrada do Ouro e o restante do trecho até o Rio foi aberto com muita dificuldade, pois ainda havia mata fechada e nenhuma trilha aberta. Quando o caminho ficou pronto a mineração já se mostrava em decadência, sendo útil este caminho como rota para as lavouras cafeeiras e as de cana-de-açúcar. Só perde sua importância com a chegada das ferrovias, no final do XIX. (1)
De acordo com os diversos autores citados no texto, Marcondes apresenta dados coletados nas diversas fontes disponíveis e através da exposição de registros feitos em tabelas, torna possível a identificação dos negociantes mais importantes, e nos permite visualizar o quão rentável foi a produção pecuária e as fortunas que surgiram a partir de então, no inicio do XIX. Nota-se também, a discrepância entre o lucro obtido pelos pequenos comerciantes e os grandes criadores latifundiários. As relações se desenvolvem a partir de interesses comuns, e as correntes de comércio interno trazem em seu bojo, laços de parentescos entre os produtores, fato esse que explica as grandes fortunas acumuladas, devido ao grande excedente apropriado e o poder nas mãos de uma pequena elite. “A estrutura do mercado colonial da época favorecia a apropriação de grande parte do excedente gerado por uma reduzida elite mercantil” (Marcondes, 2001 p 62).
Os contornos regionais, traçados pela rede de abastecimento interno, vão transformar a paisagem, devido à passagem dos condutores de gado, vão delimitar espaços, fazendo surgir comunidades que afugentarão os nativos e criará, ao longo do tempo e a partir do comércio intra-regional, um sentimento de posse e pertencimento regional, dando origem ao que hoje conhecemos como território nacional.
O capitalismo agrário estava presente neste momento histórico, expandindo e provocando o surgimento de uma segunda natureza, que cria “desejos” e os transforma em “necessidades”, o motor capitalista. Estas novas relações sociais não passam pelo âmbito senhor/escravo, ainda que houvesse fazendeiros que possuíssem seus cativos. A pesquisa historiográfica sobre o assunto revelou que havia pouca quantidade de cativos nas fazendas produtoras e estes estavam empenhados na produção agrícola.  Em relação ao desenvolvimento pecuarista, Chaves (1999, p 161), diz que “para os grandes fazendeiros podemos falar em monopólio e estabilidade de mercado, pois, para estes produtores não havia incerteza do lucro...”.
O auge desse comércio é atingido após a chegada da corte portuguesa. Neste momento, a região cresce demograficamente e a necessidade de abastecimento dos diversos gêneros, tanto nacionais como importados cresce também.  As relações mercantis dentro do mercado interno se estabelecem para dar conta dessa demanda na região do Rio de Janeiro, naquele momento. Estes mesmos comerciantes serão os futuros Barões do Café, uma mesma elite que atravessa o tempo e se mantém no poder, principalmente político, transformando e ajustando questões de interesse nacional a seus interesses pessoais.
O impacto nas diversas esferas, econômica, política, geográfica e cultural, serão sentidos no decorrer do tempo, modificando o estilo de vida e interesses de todos os envolvidos nesta trama. Uma sociedade está em construção, e a própria dinâmica interna dará o tom ao conduzir os acontecimentos, modificando as atuais conjunturas e lançando as bases para a estrutura que esta nova sociedade deve ter.

Bibliografia
MARCONDES, Ricardo Leite; Formação da rede regional de abastecimento: a presença dos negociantes de gado (1801 – 1811), Topoi, Rio de Janeiro, mar 2001.
1 - Caminho novo da Piedade: historiador lança obra que resgata origens do Vale Histórico  http://www.valedoparaiba.com/noticias/request_noticia.asp?noticia_id=1873

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