quarta-feira, 26 de janeiro de 2011

Comentário :- “PEDAGOGIA DA AUTONOMIA” “Saberes Necessários à Prática Educativa”,

                                     
Em vez de serem apenas bons, esforcem-se
Para criar um estado de coisas que torne possível a bondade
Ou melhor: que a torne supérflua!
Em vez de serem apenas livres, esforcem-se
Para criar um estado de coisas que liberte a todos
E também o amor à liberdade
Torne supérfluo!
Em vez de serem apenas razoáveis, esforcem-se
Para criar um estado de coisas que torne a desrazão de um indivíduo
Um mau negócio.”
B. Brecht.

Este comentário foi elaborado a partir do livro  Pedagogia da Autonomia, Saberes Necessários à Prática Educativa, publicado em 1996, sendo esta a última publicação em vida do educador Paulo Freire, onde ele nos indica diretrizes para um ensino progressista, ainda que possam ser aplicadas ao ensino conservador também, e nos fala da complexidade das relações entre aluno/professor. Visando apontar-nos uma pedagogia modernizada, livre dos antigos padrões, sugere um trabalho a partir de conceitos que individualizam os seres em construção, mostrando-lhes a possibilidade de instruir-se criticamente e dessa forma instruindo  indivíduos a trabalharem pelo bem da coletividade.
O professor é um eterno aluno, e nesta relação com o conhecimento sabe que se trata de um caminho sem fim, pois, segundo Freire, o ser humano é inconcluso, e enquanto se ensina se aprende e vice-versa. Toda a descoberta e troca que faz com o seu educando produz novo conhecimento, tal qual uma dança, que exige empenho, trabalho e muita reflexão para se estar sincronizado ao seu par.
A formação de ambos encontra-se sempre em andamento, pois a todo momento o mundo globalizado nos traz informações diversas de todas as partes e esse dinamismo deve perpassar a sala de aula, pois dentro do universo pedagógico caminham lado a lado, educador e educando em construção, e vão neste percurso se descobrindo, trocando se reconhecendo.
Ensinar nos dias de hoje requer habilidade em despertar no aluno o interesse pelo aprendizado e conquistar deste sua dedicação e compromisso com o saber, num momento em que acontece a nítida desvalorização do professor. Todos os que abraçarem tal ofício tem que estar cientes das implicações existentes para tal.
A realidade das escolas públicas nos dá o retrato da vida da comunidade. Jovens e crianças extremamente carentes, pois as dificuldades diárias enfrentadas por seus     pais, em luta pela sobrevivência, roubam desses alunos uma maior atenção dentro de seus lares.
Isto se apresenta ao professor em forma de às vezes rebeldia, às vezes apatia. Diante deste quadro surge não a dificuldade, mas muito mais a possibilidade de se encontrar caminhos que se abram diante dos envolvidos e possibilitem a melhor comunicação entre eles.
Paulo Freire nos propõe caminhos para promover o conhecimento de forma que desperte no ser seus infinitos potenciais e que não sejam meramente treinados em qualquer destreza a fim de serem absorvidos pelo capitalismo. Para tanto nos oferece em seu texto diversos tópicos para reflexão, nos indicando com setas os componentes necessários para que o professor cumpra seu papel.
Independentemente da opção política do professor, seja ela critica progressiva ou conservadora, há saberes indispensáveis à prática docente. Trazer à luz a capacidade crítica do aluno através da rigorosidade metódica, mostrando a ele ser possível aprender e se formar criticamente. O importante é incluir o conceito “pensar certo”, e agir sempre se norteado pela ética. Ensinar a pensar certo requer trabalho exaustivo, mas a partir disso tudo começa a fluir melhor. Para que tudo corra bem, é necessário que o professor tenha alinhados seu pensar certo, com seu fazer e principalmente, com o seu dizer, pois é através de suas mínimas atitudes e sua postura dirigida ao educando que vão definir de imediato a relação entre os dois. De acordo com sua conduta, assim é o exemplo passado ao aluno, passível de ser seguido.
Uma palavra, um gesto daquele que se propõe a ensinar podem determinar o sucesso ou o fracasso do projeto. Um professor pesquisador, que respeita seus alunos, que os ensina a ter um espírito crítico e a pensar certo, lhes apresenta a beleza do saber, age com ética, certamente terá bons frutos a colher. Está a cada dia projetando lições que o ajudarão ao aprendiz buscar sua autonomia, tal qual um espelho onde verá reproduzido o conhecimento construído ao longo do caminho.
Dentro de o processo ensinar/aprender estão incorporados conceitos que apesar de antigos, não perderam sua validade e são perfeitamente atuais e cabem no presente comentário. Um deles é a ética, que Freire enfatiza em seu texto O pensar certo se baseia primeiramente na ética, e este é um dos ensinamentos mais determinantes na formação do caráter, do ser humano como um todo e virtude inseparável do bom professor.
A ética sempre acompanhada da estética transporta o aluno da ingenuidade a criticidade, formando o ser histórico-social, sendo assim capaz de comparar, valorar, de intervir, de escolher, de decidir, de romper e assim se tornar um ser ético.             (FREIRE, Paulo. Pedagogia da Autonomia, Cap. 1.5. Editora Paz e Terra. Coleção Saberes. 1996. 36ª Edição). Aceitar os riscos que o dia-a-dia traz ao deparar-se com o novo, o diferente e ser capaz de rejeitar toda e qualquer forma de discriminação e preconceito, está implícito no caráter ético. Essas atitudes devem ser cultivadas e disseminadas durante o processo educativo, primeiramente com a própria postura do educador, a fim de provocar o entendimento do aluno.
Todas essas observações se fazem necessárias à prática da docência, tendo claro que ensinar não é transferir conhecimento e sim trabalhar para sua construção, criticando sua extensão, envolvendo-se nela e envolvendo também o aluno. A consciência de inacabamento, pois tudo no mundo está em constante movimento, transformação, deve permear o ensino, tendo-se em mente a responsabilidade por aquilo que se cria. Só aquele que se torna ético pode romper com a ética, e o ser capaz de intervir no mundo o faz, pensando certo ou errado. Capazes de produzir eventos fantásticos, são também causadores de tantas calamidades. Isso é um reflexo de sua orientação inicial e os resultados infalivelmente aparecem.
Contudo, o respeito pela autonomia do educando deve ser sagrado. O educador deve estar atento a esse fator e enxergá-lo qual respeito por si mesmo. Ter bom senso e refletir diariamente sobre sua prática, mantendo sua autoridade natural, tomando decisões, enfim, orientando o grupo da forma que sua posição exige, observando de perto a tensão causada por autoridade-liberdade sem confundir autoridade com autoritarismo,pois tênue é a linha que separa tais conceitos. A autoridade não necessita ser reafirmada a todo instante se exercida com sabedoria, pois a incompetência profissional desqualifica a autoridade do professor. (FREIRE, Paulo. Pedagogia da Autonomia, Cap. 3.1. Editora Paz e Terra. Coleção Saberes. 1996. 36ª Edição
Há também a luta pelo resgate da dignidade da profissão do professor, e os educandos devem ser inseridos nesta luta, conscientizados do direito que têm a um ensino de qualidade ministrado por docentes preparados para lhes conduzir rumo à conquista de sua identidade enquanto ser social.  O professor tem que mover-se com clareza e segurança e por mais que haja obstáculos para a plena realização e exercício de seu ofício, não deve perder de vista seu objetivo maior, que é a construção do ser humano que age no mundo e assim o transforma.
O espírito de alegria e esperança tem que estar presente em seu envolvimento com a prática educativa, sabidamente política, moral e social. Esse espírito faz parte da natureza humana e são as armas necessárias a resistência em tempos difíceis, e a convicção de que mudanças são possíveis, não deve desaparecer.
O professor movido pela curiosidade, dentro dos limites , mas em permanente exercício cultiva o mesmo sentimento em seus educandos e desta forma abre mais espaço para a busca do conhecimento.
O respeito na relação aluno/professor não dá lugar à arrogância ou a indulgência, pois onde há arrogância não há humildade, e sem esse parâmetro a tendência é o impedimento de uma perfeita interação que nasce em relações justas, sérias, generosas em que a liberdade do aluno e a autoridade docente se assumem eticamente e assim validam o caráter formado do espaço pedagógico.
A disponibilidade para o diálogo, mas principalmente, a disposição para escutar demonstra o respeito para com a leitura do mundo do educando. Sem isso o comportamento elitista e antidemocrático do professor cala a possibilidade de no educando depositar seus comunicados também.
Portanto, após anos exercendo esse oficio e pesquisando incansavelmente, o educador Paulo Freire nos presenteia com essa obra que traz em si o cotidiano do espaço pedagógico, nos mostrando suas dificuldades, mas também nos propiciando um vislumbre de um campo de possibilidades, onde docentes, como co-autores participem da elaboração e da construção de um futuro, que desejamos seja mais justo e onde a escola realmente seja destinada a todos com um fim em comum, a de formar seres pensantes e autônomos que venham a intervir no mundo e transformá-lo num lugar muito melhor para os que ainda virão.

Disciplina “Educação e Sociedade” 
  Profª  Suzy Mary N.de  O. Pregnolatto
            
                (Elaborado por Mirna Galesco Dias e grupo; Curso de História - Puc Campinas, 2010 )

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